Como o mundo pretende barrar as mudanças climáticas

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Enviado por milenan@usp.br em seg, 21/09/2015 - 15:57

Em dezembro deste ano, os 196 países membros da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC) se reúnem em Paris na busca por um consenso para barrar as mudanças climáticas e assinar um acordo capaz de substituir o Protocolo de Kyoto, ratificado em 1998.

Em dezembro deste ano, os 196 países membros da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC) se reúnem em Paris na busca por um consenso para barrar as mudanças climáticas e assinar um acordo capaz de substituir o Protocolo de Kyoto, ratificado em 1998. Os perfis de alguns dos principais participantes da Conferência de Paris (COP21), com suas metas e propostas para mitigar a emissão de gases de efeito estufa, foram estudados por alunos da disciplina Estratégias Empresariais e Mudanças Climáticas, ministrada pelos professores Jacques Marcovitch e Isak Kruglianskas para a pós-graduação. O resultado dos estudos foi debatido no dia 12 de agosto, na FEA.

A proposta do evento era discutir como avançar em políticas públicas para neutralizar as mudanças climáticas e o que pode ser realizado na Conferência, conhecida como COP21. Alguns países já entregaram seus INDCs (Intended Nationally Determined Contributions), documentos que contêm as intenções dos países para o futuro e as propostas que levarão para Paris, entre eles Estados Unidos, Noruega, México, Canadá, Rússia, China. Dia 1° de outubro é indicado como prazo para que os países encaminhem o INDC a tempo da preparação para o encontro. Brasil e Índia ainda não entregaram seus relatórios, mas a expectativa é que respeitem a data. Uma novidade, presente na maior parte dos documentos, é a inclusão de pautas sobre o uso da terra. Representando os 28 estados-membros que a compõem, a União Europeia apresentou INDC conjunto, comprometendo-se a reduzir em 40% as emissões de gases de efeito estufa (GEE) até 2030 (com 1990 como ano base), meta julgada pouco ambiciosa. Este ano, a meta de reduzir 20% já será batida, cinco anos antes do previsto. Merece destaque o compromisso da UE em incluir na meta de redução as emissões advindas de aviação e navegação internacionais.

Segundo maior consumidor de energia do mundo, os Estados Unidos estão reduzindo o uso de carvão e aumentando o uso do gás natural baseado em xisto. Além disso, a geração de energia solar cresceu 400% de 2008 a 2012, e a de energia eólica 150%. A meta é reduzir as emissões em mais de 26% até 2025. Meta menos ambiciosa tem a Rússia, que, embora pretenda reduzir em 70% suas emissões até 2030 (tendo 1990 como ano base), irá depender da capacidade de absorção de suas florestas. Thaís Malheiros, pós-graduanda responsável pela análise russa, explicou que, devido à contabilização confusa, é possível que, no ano 2000, a Rússia já tenha batido a meta a que se propõe, precisando, assim, traçar objetivos mais audaciosos, considerando que é o quinto maior emissor de GEE do planeta.

A China, maior emissora de GEE, irá calcular a taxa de redução por unidade do PIB, assim pretende-se que a baixa nas emissões acompanhe o ritmo da economia. A meta é reduzir de 60 a 65% até 2030 (com base em 2005) e aumentar a área de florestas em 40 milhões de hectares. A China cita a ambição de reduzir as emissões de gás carbônico, não entrando em detalhes quanto à redução de outros GEE, detalhe bastante criticado dentre suas propostas.

O INDC do Canadá foi considerado pouco ambicioso, almejando reduzir em 30% as emissões de GEE até 2030. Seus investimentos em tecnologia de veículos elétricos e geração de energia através de fontes alternativas, como nuclear e eólica, não devem ser capazes de aplacar o aumento nas emissões, que, desde 1990, cresceram 26%. Francisco Bernardes aponta como possível obstáculo ao Canadá o negligenciamento ao aumento exponencial da migração para o país, o que pode ampliar a demanda por energia.

A Índia, terceiro maior emissor de GEE firmou, em 2014, o compromisso de apresentar uma redução de 20 a 25% em suas emissões até 2020, tendo 2005 como ano base. O país tem como meta aumentar a capacidade de produção de energia em 15%, investindo em energias renováveis e se preocupando com o uso da terra, sendo que pretende reflorestar 20 milhões de hectares; tudo isso até 2020. Nadir França acredita que as metas são alcançáveis antes mesmo de 2020, mas critica a ausência de um plano de ação mais bem definido e da falta de transparência em divulgar índices.

O México estipulou metas “condicionais” e “incondicionais”, sendo que as últimas devem ser alcançadas independentemente de auxílios externos. Como meta incondicional está a redução em 25% nas emissões; quando condicional, 40%, com 2005 como ano base. De acordo com o pós-graduando Henrique Chagas, o principal objetivo do país deve ser trabalhar na mudança da matriz energética, já que a maior parte de suas emissões advém da transformação da matriz, principalmente petróleo e gás, em energia elétrica. Ele criticou o fato do pico de emissão do México acontecer apenas em 2026 para, a partir daí, passar a cair: “Em termos absolutos, temos mais uma década de aumento nas emissões”.

Portadora da segunda matriz energética mais sustentável do mundo, a Noruega não deve atingir sua meta de reduzir em 30% as emissões até 2020 e neutralizá-las até 2050, devido ao fato de sua economia ser dependente da atividade pesqueira, que requer uso elevado de combustíveis para transporte. Isso não impede o país de ser um dos principais contribuintes para a redução da emissão de poluentes e de incremento à sustentabilidade, investindo em iniciativas de preservação ambiental.

Fonte: Gente da FEA - edição Setembro de 2015